Incentivar a formação prática, teórica, política, técnica e científica
em Agroecologia, difundindo os conhecimentos produzidos e aproximando
estudantes, agricultores e militantes das universidades e organizações
populares do Nordeste foi o objetivo do 1° Curso Regional de Formação em
Agroecologia (CRFA), realizado entre os dias 19 e 26 de fevereiro, no Centro de
Formação Dom José Rodrigues do Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada (Irpaa), em Juazeiro (BA).
Organizado por entidades ligadas à
luta pela terra no Brasil, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Pequenos
Agricultores (MPA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Estudantes
de Agronomia do Brasil (Feab), Associação Brasileira dos Estudantes
de Engenharia Florestal (Abeef) e Entidade Nacional dos Estudantes
de Biologia (Enebio), o 1º CRFA proporcionou aos participantes a
discussão de variados temas. Das contradições do agronegócio ao protagonismo das
mulheres na construção da Agroecologia; das tecnologias de convivência com
o semiárido à produção de material de acúmulo para as universidades e
organizações, contemplando vivências em comunidades agrícolas da região.
Joelton Belau, da coordenação nacional
da Feab, criticou a formação acadêmica na área agrícola, que, segundo ele,
se baseia na utilização de agrotóxicos e produção de monocultivos em
grandes extensões territoriais, gerando impactos sociais, econômicos e
ambientais. “O Curso é uma oportunidade de vivenciar um modelo de produção
agrícola diferente do que vem sendo ensinado nas universidades de Agronomia”,
ressaltou. Cleber Folgado, militante do MPA e integrante da coordenação
nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, destacou
a importância de aprender coletivamente. “A partir das diversas vivências das
pessoas que estão aqui, podemos consolidar a agroecologia como um instrumento
histórico que o conjunto da sociedade precisa se apropriar para avançar na
produção de alimentos saudáveis”.
No espaço de troca
de experiências agroecológicas, cursistas de todo o Nordeste conheceram os
desafios enfrentados pela comunidade de Fundo de Pasto de Areia Grande, no
município de Casa Nova (BA). Zacarias Rocha, da Articulação Regional
de Fundo de Pasto, recordou o histórico de luta da comunidade para impedir
que empresas do setor de agrocombustíveis grilassem o território tradicional.
Para ele, a agroecologia é um jeito de viver que agrega às tradições populares
a boa relação com as plantas, pessoas e animais.
Marilza Índia, do Instituto de
Permacultura em Terras Secas (Ipeterras), sediado em Irecê (BA), concorda com
Zacarias. Em sua apresentação das atividades desenvolvidas no Ipeterras, se
destacaram a adoção de técnicas de manejo agroecológicas, como a utilização de
caldas, estratos vegetais e composto orgânico, e o investimento no plantio de
mudas nativas através dos Sistemas Agroflorestais (SAF's). “Intercambiar
informações é um ponto chave, afinal, com a troca de experiências a gente
reflete sobre as soluções aos desafios enfrentados por cada grupo”, ressalvou.
Um dos grupos que contribuíram na
organização do evento foi o Grupo de Agroecologia Umbuzeiro (GAU), surgido
em 2005 por iniciativa de estudantes do curso
de Agronomia da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro. Em
oito anos de atuação, o GAU tem sido um exemplo de construção de ações
articuladas para o bioma caatinga a partir dos intercâmbios com
organizações da sociedade civil que promovem experiências exitosas de Agroecologia
e educação contextualizada no semiárido brasileiro.
Agora, a expectativa é que o GAU
contribua na implantação das
unidades de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) em
comunidades atingidas por barragens, tecendo as chamas do fogaréu da
Agroecologia e revelando as potencialidades de um processo pedagógico pautado
numa educação para a convivência com o semiárido. Parafraseando Eduardo Galeano, a
ideia é alumiar a caatinga com tamanha intensidade que
seja impossível olhar as práticas agroecológicas sem pestanejar. E quem chegar
perto pega fogo.
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